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8 de maio de 2009 — anacarolina

O automóvel como “quase-vestimenta”

Lendo o livro “A Natureza do Espaço” , do geógrafo Milton Santos, gostei bastante da citação referente ao automóvel que copio abaixo:

“O automóvel é, para Baudrillard, um dos mais importantes signos de nosso tempo e seu papel na produção do imaginário tem profunda repercussão sobre o conjunto da vida do homem, incluindo a redefinição da sociedade e do espaço. As cidades não seriam hoje o que elas são se o automóvel não existisse. Os homens acabam considerando o automóvel como indispensável e esse dado psicológico torna-se um dado da realidade vivida. Ilusão ou certeza, o automóvel fortalece no seu possuidor a idéia de liberdade do movimento, dando-lhe o sentimento de ganhar tempo, de não perder um minuto, neste século da velocidade e da pressa. Com o veículo individual, o homem se imagina mais plenamente realizado, assim respondendo às demandas de status e do narcisismo, característicos da era pós-moderna. O automóvel é um elemento do guarda-roupa, uma quase-vestimenta. Usado na rua, parece prolongar o corpo do homem como uma prótese a mais, do mesmo  modo que os outros utensílios, dentro de casa, estão ao alcance da mão.”

MILTON SANTOS em  “A Natureza do Espaço”


Não defendo uma sociedade com carros. Pelo contrário. Mas para combatê-lo ou mesmo minimizá-lo, precisamos entender as análises e sentidos em torno do grande sucesso do automóvel nas sociedades modernas. O meio ambiente e por consequência a humanidade tem muito a perder com os supostos “super poderes” apregoados em volta das carroças motorizadas. Segundo o autor,  “As coisas seriam um dom da natureza e os objetos um resultado do trabalho, já que toda criação de objetos responde a condições sociais e técnicas”, e que hoje, “os objetos tomam o lugar das coisas.” Assim “a natureza se transforma em um verdadeiro sistema de objetos e não mais de coisas” e, ironicamente, segundo Milton Santos, “é o próprio movimento ecológico que completa o processo de desnaturalização da natureza, dando a esta última um valor.”

Milton Santos foi professor da Universidade Federal da Bahia até 1964 e reintegrado em 1995, tendo ensinado em diversas universidades na Europa, na África e na América do Norte e do Sul.  Entre os assuntos  a que se dedicou em vida estão a problemática da urbanização no Terceiro Mundo e a teoria e a metodologia geográficas, temas sobre os quais publicou diversos livros e artigos em português, francês, espanhol, inglês e japonês.

Entre as honrarias que recompensam o seu trabalho intelectual está atribuição, em 1994, do Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud e o tíitulo de doutor honoris causa recebido da Universidade de Toulouse (1980), da Universidade Federal da Bahia (1987), da Universidade de Buenos Aires (1992), da Universidade Complutense de Madri (1994), da Universidade Estadual da Bahia (1995), da Universidade Estadual do Ceará (1996), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996), da Universidade de Passo Fundo (1996) e da Universidade de Barcelona (1996).

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