A retomada da discussão sobre as Ilhas Malvinas deixa em evidência as fragilidades do atual sistema internacional. Ao iniciar a exploração de petróleo nas ilhas, o Reino Unido atua à revelia das determinações da ONU, que através da Resolução 2065 de 4/1/1966 reconhece que a área em questão está em litígio internacional, impedindo a atividade econômica sem a concordância de ambas as partes. Londres age de maneira análoga aos EUA quando da invasão do Iraque em 2003, ao ignorar o sistema das Nações Unidas e usar a força contra uma nação soberana, sem o aval nem mesmo do Conselho de Segurança.
O Reino Unido baseia todo seu argumento em outra Resolução, a 1514 (14/12/1960), que versa sobre o direito de auto-determinação dos povos e de livre atividade econômica destes. Segundo a visão britânica, os malvinenses não são povos colonizados porque escolheram, através de plebiscito, manter-se unidos ao reino europeu, tendo direito de explorar o que for em seu território.
Muitas questões se levantam ao examinar tais premissas. Os habitantes das ilhas, em torno de 5 mil pessoas, são descendentes diretos de ingleses que lá imigraram no século XIX, tendo como único objetivo legitimar a ocupação ilegal do território argentino. Os malvinenses, por razões de afinidade cultural e linguística, além da intensa patrulha militar, mantiveram laços com a potência do norte, formando gerações de pessoas sem qualquer ligação com o país situado a apenas 400km de distância. A Argentina, obviamente, entende que o direito de posse das terras não é prescritível, pois um ato lesivo à sua soberania deve ser solucionado mesmo após quase dois séculos de ocupação, devendo seus poucos habitantes ser integrados à República Argentina ou expatriados.
O mais curioso é que o Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte não pareceu se importar com a carga secular de questões territoriais ao ser o primeiro país a incentivar a criação do Estado judeu na Palestina, após 1900 anos da diáspora dos hebreus. Com as Malvinas, insiste-se que os 177 anos de ocupação lhe garantem a soberania do território. Cinicamente, afirma também ser a favor de uma eventual independência das ilhas, com o muito possível fim de transformá-las em um Estado-fantoche a serviço dos interesses dos capitalistas londrinos.
Nós, como sul-americanos, seres humanos e aspirantes de uma ordem internacional justa e equilibrada entre as nações, devemos repudiar as recentes ações britânicas nas Ilhas Malvinas. É necessário que se reestabeleça um diálogo franco e objetivo com vistas à resolução desse histórico impasse, sem atitudes unilaterais nem demonstrações de força, principalmente dos que já contam com aparatos militares e diplomáticos a seu favor.